Qual é o maior bem do Patrimônio Histórico de Passo de Torres?

Quando se menciona patrimônio, logo vem na memória o patrimônio da empresa, da família, da associação, o patrimônio público, entre outros. A palavra patrimônio inevitavelmente nos remete a bens materiais, porém, existem bens imateriais que são tão importantes quanto, um valor material inestimável, esses bens, são parte do Patrimônio Histórico Imaterial.

E qual é o maior bem do Patrimônio Histórico de Passo de Torres? Claro que é urgente que se faça um inventário do patrimônio passo-torrense, mas um, é muito evidente: a pesca artesanal!

Bem, se os patrimônios de empresas, famílias, entre outros, são passados para herdeiros, então o patrimônio histórico também é uma herança. Portanto, a pesca artesanal é uma “herança cultural” . Essa herança, em Passo de Torres e região é milenar!

Essa região, o “Vale Sagrado do Mampituba”, fora ocupada inicialmente pelo Homem de Sambaqui, depois foi habitada pelos Guaianáses, de tronco Jê, e posteriormente pelos “mbyà-guaranis.

A orla marítima era conhecida como “Boipitiba” ou “M’boipituba. A nucleação se inicia com a Sesmarias dos Rodrigues da Silva em 1820, e a orla do Mampituba fora ocupada no final doa século XIX.

Esses habitantes de miscigenação indígena, afro e europeia, utilizavam as mesmas técnicas de pesca dos primeiros moradores.

Sambaquianos

Os sambaquianos pescavam com redes e tarrafas feitas com fibra de tucum Eles utilizavam anzóis com costela de macaco bugio e outras caças. Remavam com canoas feita de troncos de árvores e pescavam linguados com uma prática chamada fisga etc.

Atualmente, os pescadores artesanais ainda utilizam essas práticas na pesca, no entanto, recorrem a materiais mais adequados. Portanto, a prática da pesca, trata-se de uma “herança cultural” milenar, que pode ser de quatro mil anos, tratando-se do Vale do Mampituba.

No que diz respeito ao Patrimônio Histórico Material, é claro que se remete à ruína dos Rodrigues da Silva, localizada no Morro dos Macacos.

Todo sesmeiro tinha algumas obrigações. Os irmãos Rodrigues da Silva, tinham que garantir atividades amarradas ao registro inicial das sesmarias de 1755, contrato esse feito por Manoel Ribeiro Araújo com a Coroa Portuguesa. De acordo com Diderô Lopes em seu livro, “O Detetive do Passado e sua Viagem Além Mar (2015)”, que dentre essas obrigações os pioneiros deveriam fazer caminhos, pontes, estivas, estabelecer barcas, reservar serventias públicas e criar gado. Além disso, também deveriam organizar uma vila na localidade e sem recursos do governo. E claro, pagar impostos, taxas, tributos, e tudo o que a Coroa viesse a cobrar. 

Nesse contexto, surgem as primeiras casas da região. Comprovadamente a casa de pedra é remanescente do período de desenvolvimento da região, de acordo com Lopes (2015)

 “(…) as evidências apontam que primeiras casas do Passo de Torres-SC, cobertas por telhas de barro, provavelmente foram edificadas em Curralinhos – ligadas aos antepassados locais e eram um misto de residência, no estilo colonial português, ampliada ao fundo por uma parte destinada à carneação, bem como, ao trato e manuseio dos animais domésticos.”

Pode-se afirmar, que devido às atividades de escoamento da produção da Estiva dos Rodrigues, atual Morro dos Macacos a casa sede assume a importância histórica desse local de memória, e, diga-se de passagem, de memória afetiva, mesmo que em ruínas, faz parte do marco inicial da cultura local e regional. 

A pesquisa da origem da casa ainda está em andamento. Na oralidade encontra-se datas da década de 1820, também de 1840, mas graças à revisão da História, as evidências atuais apontam que a casa foi construída por volta de 1870.

O pesquisador e descendente dos Rodrigues da Silva, Diderô Carlos Lopes, vem arduamente buscando informações mais precisas. Até agora podemos evidenciar que a casa foi construída pelo filho de Manoel Rodrigues da Silva, Manoel Militão, no período citado, era a sede da administração de uma grande área de terra que tinha a produção de gado, de cana-de-açúcar, de café e provavelmente de farinha.

Ruínas – casa do Morro dos Macacos
Fonte: Acervo, Eliana Santos da Rosa

Através da oralidade tem-se o depoimento de Alfredo Pedro Bauer, descendente de Manoel Militão e testemunha da demolição da casa. Diz que por volta de 1970 a mesma foi demolida quase que totalmente, com a justificativa de usar o seu riquíssimo material em madeira em detrimento, na construção de outra, no município de Sombrio. 

Sempre que a palavra patrimônio surgir à mente, deve-se lembrar que em Passo de Torres, além das heranças culturais que abordei até aqui, existem muitas outras, como, por exemplo: a passagem dos Tropeiros que deram nome ao município (essa é outra história a ser contada aqui).

Os saberes e fazeres de nossos ancestrais que aqui nos deixaram são verdadeiras heranças, e se é herança, não se pode simplesmente negligenciar o que é recebido.

O patrimônio histórico material e imaterial tem valor inestimável, deve ser sempre preservado para a identidade e sentimento de pertencimento ao local.

Jaime Batista
Professor, historiador, músico e gestor de cultura da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC) de Passo de Torres

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